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Coisas de Sexo, Vaginas e Pénis

Novembro 12, 2009

João, nome fictício e habitualmente escolhido para nome fictício, tinha por hábito usar a Internet para procurar “encontros rápidos e sem complexos”. Foi no site “Yes, Let’s do the thing that birds and bees do too” que conheceu Paula, nome fictício e também habitualmente escolhido para nome fictício. Depois de diversas escritas tórridas, Paula convidou João para um encontro na sua casa.

João estava nervoso e sem confiança no convite. Já tinha estado 10 vezes no D’lirius Azuis, deitado nu numa cama, mas com meias calçadas para não se constipar, à espera que a sua conquista virtual batesse à porta. Muitas vezes, acabava vestido de enfermeira, com um enorme vibrador na mão, fingindo que era um Sabre de Luz, para aproveitar os adereços que estão à disposição do freguês nos quartos daquele Motel. Pagava o quarto, levava consigo todos os óleos e geles lubrificantes que encontrasse, e seguia caminho infeliz da vida por causa de mais uma ‘banhada cibernética’.

Mas desta vez a coisa prometia. Mesmo que Paula não estivesse em casa, João apenas teria o incómodo da deslocação e o custo do gasóleo. Esperançoso e para evitar que alguma coisa pudesse correr mal, João decidiu emborcar 10 Viagras, não fosse a sua mente criar um bloqueio ao desempenho. Mal sabia o João que o comprimido azul podia provocar visão azulada. Isso fez com que a escolha da roupa fosse um desastre, mais se assemelhando a um representante da CGTP quando veste fato e gravata para uma reunião no ministério. Habituado às cores, escapou por pouco a dois acidentes ao ignorar os semáforos junto a cruzamentos.

Ainda a achar que tinha um pedaço de celofane azul colado na cara, João lá conseguiu chegar à morada onde esperava que se fossem desenrolar diversos actos de sexo selvagem e sem compromisso. Ao ajeitar as calças, reparou com horror em duas enormes manchas perto da virilha. Ele pensava que as nódoas do Caril de Galinha já tivessem saído após diversas lavagens com Tide, mas o olhar azulado do Viagra veio destacá-las, como se fosse um episódio do C.S.I., onde eles tentam ver,  usando uma luz especial, se existem manchas de sémen no lençóis. Paciência. O Viagra já começava a fazer efeito e não dava para voltar atrás para mudar de roupa.

João tocou à campainha e esperou. Os segundos desse instante pareceram-lhe horas. Já se preparava para voltar para o carro, quando alguém abriu porta.

Paula? – perguntou João com a voz aos soluços, incapaz de disfarçar o nervosismo;

Sim, sou eu – Respondeu uma voz cavernosa saída da mulher que o olhava de uma forma esgaziada;

João estava petrificado e estupidificado com aquele ser, supostamente do sexo feminino, que o galava de forma cambaleante. É certo que João não era parecido com o modelo que aparecia nos anúncios do perfume da Hugo Boss no Natal de 2006, nem sequer tinha a barriga lisa como o Michael Phelps, mas bolas, isso eram dois pormenores insignificantes. Bem pior era o facto daquela ‘mulher’ não ser minimamente parecida com a Gisele Bünchen; de estar a olhar para ele de baixo para cima, mesmo em cima de uns enormes tamancos, coisa que o fazia duvidar dos anunciados 180cm de altura; de ocupar toda a largura da porta, outra coisa que o fez duvidar das anunciadas 6 sessões de ginásio por semana; e de ter o cabelo verde, um efeito resultante da mistura dos efeitos secundários do Viagra, com o cabelo louro platinado da senhora.

João foi apanhado de surpresa, e antes que pudesse ter uma reacção, já Paula o puxava para dentro de casa, fechando a porta com estrondo. O cheiro a álcool vindo do bafo exalado por Paula, denunciava uma bebedeira descomunal. Com muito custo, João conseguiu afastar Paula, que entretanto descalçara os tamancos e tentava abrir a sua braguilha de forma esfomeada.

Eu tenho de ir refrescar-me! – disse João à procura da casa-de-banho;

Neste momento o pânico tinha-se apoderado de João. Aproveitando a aparente segurança daquele espaço, João agarrou no seu Vodafone 360 e, em vez de tentar descobrir o contacto da Eva Mendes, ligou-se ao site do FBI para esclarecer uma suspeita sua. Bingo! Lá estava ela na lista “The FBI’s Ten Most Wanted Fugitives”. Aquela mulher não se chamava Paula. Tratava-se sim, de Ablaa Ghaada, mais conhecida por aquela-que-esconde-coisas-na-vagina. A presença nessa lista devia-se ao facto dos EUA desconfiarem que a vagina de Ablaa Ghaada pudesse estar a ser usada para esconderijo de Bin Laden. É preciso recordar que Ablaa Ghaada já tinha praticado um furto de grande dimensão, tendo usado a sua vagina para esconder dois anéis, três brincos, três pendentes com pedras preciosas, um fio com cerca de meio metro, um relógio Omega Speed Master, duas pulseiras e duas medalhas com motivos religiosos.

João tremia como varas verdes. Os grunhidos libertados por aquela espécie de Zombie e as pancadas que eram dadas na porta da casa-de-banho faziam-no temer pelo pior. Pobre sina a dele. Em vez de estar sozinho e nu num quarto de Motel, encontrava-se vestido, sentado numa sanita e desejoso de encontrar uma multidão que o salvasse de uma possível remoção acidental do seu pénis. Basta. João encheu-se de coragem e decidiu encarar a besta. Mas assim que saiu da casa-de-banho, deparou-se com uma cena ainda mais assustadora. Paula, ou Ablaa Ghaada, estava agora encostada à porta da rua, vestida com algumas peças justíssimas, em cabedal preto, sendo esse um fetiche que João tinha confessado numa das conversas. Só que, em vez de uma Dominatrix voluptuosa, João deparava-se com uma espécie de Gremlin vestido de cabedal, fazendo lembrar o tipo que tocava os tambores nas galeras do Ben Hur. Ela, com a chave na boca, grita-lhe,

Hana cá…cheu…cheu Adhónis!

Sem hesitar, João atirou-se por uma das janelas da sala, esquecendo que estava num segundo andar, acabando por cair sobre o capot de um carro estacionado, algo que permitiu amparar a queda. Cambaleante, arrastou-se até ao seu carro e voltou para casa ainda com a sensação de ter um pedaço de celofane azul colado na cara. Nessa noite, João ligou-se à Internet para partilhar com todos a sua última experiência sexual, descrevendo aquilo que devia ter sido mas não foi.

(ficção baseada em factos verídicos, possíveis de confirmar através dos diversos links espalhados no texto)

 

17 comentários leave one →
  1. Novembro 12, 2009 5:55 pm

    Muito bom!

  2. Novembro 12, 2009 8:31 pm

    Lool Está absolutamente lindo (e interessante também ;)).

    Aproveitei e dei uma espreitadela aos FBI most wanted. É incrivel como as descrições deles fazem lembrar aqueles “sobre mim” das redes sociais. “É um rapaz musculado, gosta de pescar, actividades ao ar livre, tem um doutoramento” lol
    E também como podes ficar na lista dos mais procurados (juntamente com Bin laden) por coisas como matares um tipo à porta do cinema p lhe roubares uns trocos. Eles deviam vir passar uns tempos a Portugal para saberem como são “os 10 mais criminosos” :P

    • Novembro 12, 2009 9:35 pm

      Cris, a propósito do texto, aproveito para dizer que tenho andado um pouco preguiçoso para rever aquilo que publico. Por causa disso é comum haver erros. Estava agora a rever e vi que tinha escrito isto «eram dois pormenores sem insignificância» :) que entretanto já corrigi para «eram dois pormenores insignificantes». Adiante.
      No caso do Bin Laden, temos “Occupation: Unknown”. Quer dizer, o homem ocupa-se do terrorismo, qual é a dúvida? E o Jason Derek Brown, na foto pequena, até parece o Sean Penn quando era mais novo.
      :) Os nossos 10 mais criminosos, suspeito que fossem todos do grupo dos crimes associados ao ‘Colarinho Branco’ .

  3. Novembro 13, 2009 12:25 am

    Bluewater

    Muito, muito bom.

    Há ainda uma Paula, nome real, portuguesa, procurada pela PJ, por ter marcado encontros pela internet e drogado os homens, causando-lhes amnésia. Li hoje num jornaleco qualquer no café.

    Há ainda esta história que me fez acreditar que ou está tudo doido ou o 1º de Abril comemora-se este ano em Novembro.

    http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=1417413

    • Novembro 13, 2009 2:55 pm

      Sabina, sejas bem-vinda a este blogue. Eu não sei se estou a fazer confusão com outra história, mas recordo-me dessa Paula ou pelo menos, de história muito semelhante, onde o objectivo era sacar dinheiro aos patinhos que le caiam aos pés.
      No segundo caso eu acho que está tudo doido, até porque nem se pode dizer que o Dominic Baronet tenha um olhar matador. Uma coisa é haverem conversas na Net e um exagerar das qualidades físicas. Coisa que cai ao chão no primeiro encontro. Outra bem diferente é chegar a haver um contacto físico, sem qualquer protecção, com as mulheres a engravidarem. Isto é…uma mentira do 1º de Abril?
      Por estas e por outras, acho que quando a minha filha tiver idade para andar na Internet – algo que eu ainda não sei quando será :) – eu estarei de certeza sempre a espreitar por cima do ombro dela

  4. Ana Grichetchkine permalink
    Novembro 13, 2009 4:41 am

    Me gusta tu escrita!

  5. Kurioso permalink
    Novembro 13, 2009 10:33 pm

    Parabéns pela forma brilhante como juntou uma série de pedaços da “doideira” que vai por este mundo.

    Por este andar a humanidade nem precisará de kalashs para se autoliquidar.

    Quanto à sua pequenita, o melhor mesmo é conseguir transmitir-lhe os valores correctos. Controlar…já era.

    Abraço.

    • Novembro 15, 2009 4:26 pm

      Kurioso, espero mesmo que os valores e ideais transmitidos ao longo do seu crescimento sejam suficientes para me poupar a muitos cabelos brancos no futuro :) Como isto está, cada vez será pior. E por incrível que pareça, quando pensamos que já nada nos surpreende, eis que levamos com coisas destas

  6. Novembro 13, 2009 11:06 pm

    Uma risota ! rs
    Mais engraçado porque eu passei por essas e outras notícias e fiquei com uma ideia a dançar-me na cabeça: isto é só notícias com sexo ! Tudo tem a ver com sexo !
    (e depois produzi… rs)
    Fizeste uma óptima colagem. As medalhinhas com motivos religiosos todas molhadinhas… lol
    É coisa para SaramagoHardCore ! lol

    (…mas sabes que eu vim aqui perguntar-te: cadê o MadMen, porque é que não está a dar o MadMen ?!)

    • Novembro 15, 2009 4:43 pm

      Branca, vou directamente para o fim :) “Mad Men”…pois nem sei que te diga. Quando percebi que ia dar o 24, até me caiu tudo ao chão. Eu já fui ver e descobri que no total existem 3 temporadas, cada uma com 13 episódios. Será possível que já tenham dado 13 episódios? Se foi isso, então teremos de aturar um longo intervalo até que a RTP2 se digne a mostrar a 2ª Temporada

  7. Ana T. permalink
    Novembro 14, 2009 10:23 pm

    A imaginação aqui é delirante. Mas olha que, nos dias que correm, é difícil a ficção acompanhar (já nem digo ultrapassar) a realidade. Muito bom e bem documentado!
    Bjs
    Ana

    • Novembro 15, 2009 5:16 pm

      Ana, eu tinha lido aquelas ‘notícias’ de forma solta. E foi a notícia da senhora que prendeu dentro da sua casa o tipo que tinha conhecido na Net, que serviu de agregador para as pontas soltas.

  8. Novembro 16, 2009 12:29 pm

    A concepção do post está simplesmente fantástica. Parabéns!

  9. Novembro 21, 2009 7:56 pm

    Adorei a história. Parece um conto macabro que, no fundamento, é sobre a miséria do humano. Muito bom. E dá conta de que a realidade sempre é superior à ficção. O bom da ficção é que podemos nos recolher ao ambiente seguro de casa e depois relatar os fatos de forma literária. Aliás, se a vida fosse mais literária, com todos esses toques cruéis (e humorados), seria bem interessante. De qualquer forma, achei tudo muito bom. Abraço!

  10. manecas permalink
    Dezembro 10, 2009 10:37 pm

    Apenas um comentário “Espectacular”!!
    Continua estás no bom caminho, rsrs…

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