“Um pontapé nos tomates”

.

.

Passos não disse isto, mas bem que o podia ter feito. Passos disse antes que a agressão foi mais acima, que o corte do rating foi como um “murro no estômago”. A verdade é que ele já olhava em frente e nem se apercebeu da chegada da Moody’s, a tal agência de notação financeira sodomizadora de sonhos de recuperação económica, não reparando que esta lhe dava um empurrão que o fez ir embater com o queixo contra a parede. Sem espinhas, anestesia ou vaselina, a Moody’s cortou em quatro níveis o rating de Portugal de Baa1 para Ba2, colocando a dívida do país na categoria de lixo (junk).

Apesar de todas as boas intenções do Passos, a Moody’s justifica esta bordoada com três argumentos: o risco de Portugal precisar de um segundo pacote de empréstimos internacionais antes de conseguir regressar aos mercados no segundo semestre de 2013; a  “possibilidade crescente de a participação dos investidores privados ser imposta como pré-condição” para esse segundo resgate; o agravamento dos receios de que Portugal não seja capaz de cumprir a totalidade das metas de redução do défice e da dívida.

Uma traulitada na economia do país, que poderá levar à ruína muitas empresas que dependem de financiamentos bancários para sobreviver, e muitas famílias que já não sabem como esticar o orçamento para pagar os empréstimos que contraíram aos bancos. Pior, uma traulitada dada poucos dias depois do Passos ter anunciado um corte extraordinário no Subsídio de Natal, coisa que tem feito os técnicos dos impostos andar numa roda viva para definirem a fórmula correcta que irá sufocar muitos portugueses na quadra das filhoses, das rabanadas e do nascimento do menino Jesus.

O Passos tinha eliminado os governadores civis, tinha anunciado cortes nos organismos da função pública “a curto prazo”, tinha anunciado cortes nos gestores públicos, para felicidade de Bruxelas, tinha acabado de anunciar o fim das famosas Golden Share, verdade seja dita, tinha demonstrado toda a intenção de atingir as metas do défice, e mesmo assim, a Moody’s, dá-lhe um carolo e associa a nossa economia a lixo? Uma decisão tomada, segundo a Moody’s, mesmo tendo em conta todas as medidas de austeridade anunciadas ou já implementadas?

E a Angela, Pá? O que é que ela diz disto tudo?