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O Mantorras poderá ser o Seabiscuit desta crise?

Fevereiro 6, 2009

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01.02.2009

Foram vários os despedimentos anunciados pelo mundo.

Fiat 60.000; Caterpiller 20.000; NEC 20.000; Pfizer 8.000; Nippon Gla 6.000; Philips 6.000; Kodak 4.500; Toshiba 4.500; Corus 3.500; Manitowoc Crane 2.000; Metropolitano Londres 1.000

GlaxoSmithKline, que por cá comercializa a vacina contra o cancro do colo do útero, apresenta uma estimativa entre 6.000 a 10.000

Na semana anterior, foram anunciados 230.000 despedimentos em todo o mundo.

Face a este cenário a nível mundial, o Governo anuncia que irá investir 580 milhões de euros na defesa do emprego. Segundo o ministro do Trabalho, o investimento será feito no programa Iniciativa Emprego 2009, que vem reforçar a defesa dos postos de trabalho e apoiar a entrada no mercado de jovens e de desempregados de longa duração. Entre as principais medidas estão o incentivo à contratação de pessoas com mais de 55 anos e a criação de 400 gabinetes de Inserção Profissional

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02.02.2009

Anúncio da falência da Qimonda. Se não houver comprador até Março, aquela que era a segunda maior empresa de exportação do país, fecha as portas e envia 1700 trabalhadores para o desemprego.

Anúncio do encerramento da Frutinatura. Os seus 34 trabalhadores tinham sido obrigados a um período de férias forçado. Quando quiseram retomar a actividade, constataram que a empresa tinha fechado portas.

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03.02.2009

Pela primeira vez na sua história, a Corticeira Amorim anuncia o despedimento colectivo de 193 trabalhadores.

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04.02.2009

Edscha pede insolvência para 15 fábricas na Europa. A unidade da empresa alemã em Torres Novas está incluída neste conjunto de fábricas com declaração de insolvência. A unidade da empresa em Portugal emprega 180 pessoas.

Suberus, que já foi o segundo maior grupo corticeiro do país, apresenta pedido de insolvência de quatro unidades do grupo. A decisão envolve o futuro de cerca de 300 trabalhadores.

E a terminar, a Panasonic anunciou a intenção de despedir 15.000 funcionários e encerrar 17 fábricas em todo o mundo. A decisão da multinacional japonesa é justificada com a grave situação financeira da empresa, resultante da crise mundial e da subida da moeda no Japão.

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Foi uma semana negra. Se não estou em erro, na 4ª Feira, os primeiros 15m do Telejornal, foram ocupados a falar de despedimentos e insolvências. Só no mês de Janeiro, 300 empresas pediram insolvência ou declararam falência.

São milhares os que vão ser colocados no olho da rua, sem grandes perspectivas para o futuro próximo. Se a situação por cá é assustadora, vejam-se os números a nível mundial para perceber que a catástrofe (uma palavra talvez demasiado forte?) é global.

A melhoria das condições não surge de um dia para o outro, e será preciso muito engenho para conseguir arranjar colocação para todos estes infelizes que vão bater à porta dos Centros de Desemprego. Estamos a falar em muitos casos de trabalhadores altamente qualificados, bastante vocacionados para a área em que trabalhavam. Que formação pode agora ser dada a esses trabalhadores para arranjarem colocação noutras áreas de trabalho? Apenas se pode esperar que a conjuntura mude e que as mesmas fábricas voltem à produção anterior, voltando a recrutar essa mesma mão-de-obra. Não vejo grandes perspectivas para outros cenários.

E não é com truques de magia, capazes de alterar as estatísticas, que se consegue esconder as evidências mostradas todos os dias nas notícias «Se for aplicado integralmente, o plano de ocupação de desempregados desenhado pelo Governo vai implicar que até 57 mil pessoas sem trabalho não sejam consideradas “desempregadas”».

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Estava a tentar digerir estes números, a pensar no que teria sido a Grande Depressão dos anos 30, e a tentar perceber o que nos separa de um cenário idêntico. Nisto, lembrei-me do Seabiscuit e do golo que o Mantorras marcou ao Rio Ave. O que é uma coisa tem a ver com a outra? É isso que vou tentar explicar.

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Durante a Grande Depressão, as notícias e o entretenimento eram transmitidos pela Rádio. As pessoas agarravam-se a esse objecto na esperança de ouvir algo que lhes dissesse que a crise estaria prestes a terminar e que iriam recuperar as vidas que perderam com a crise. No meio de um dos períodos mais difíceis da nossa história, as pessoas precisavam de algo inspirador para lhes levantar a moral, e sobretudo, dar-lhes a esperança que haviam perdido. E essa esperança acabou por ser encontrada num dos mais improváveis dos heróis – um cavalo de corridas chamado Seabiscuit.

Era um cavalo de estatura pequena e dotado de uma marcha peculiar, que não tinha um perfil de campeão. Passou de dono para dono e ninguém queria apostar nele, tendo mesmo adquirido fama de preguiçoso, desmotivado ou perdedor.

Foi então que Charles S. Howard, um empresário que tinha feito fortuna no ramo automóvel, decide comprar o Seabiscuit e apostar nele para ser um grande campeão.

O dono, Charles S. Howard, o treinador de cavalos, Tom Smith, e o Jockey Red Pollard (que até à data nunca tinha tido sucesso), conseguiram transformar Seabiscuit num campeão adorado por todos aqueles que tinham perdido tudo.

Seabiscuit foi considerado o melhor cavalo dos Estados Unidos, e em 1938, naquela que foi considerada “A Corrida do Século”, ganhou ao seu único oponente, o cavalo War Admiral, um grande campeão que parecia invencível até esse momento.

Depois desse grande momento, Seabiscuit fez uma lesão cujo diagnóstico era o pior possível, prevendo-se que ele nunca mais voltaria a correr. O seu Jockey de sempre, Red Pollard, também tentava recuperar de uma queda, que o tinha lesionado com bastante gravidade. Essa queda tinha-o impedido de montar o Seabiscuit na corrida contra o War Admiral. Durante largos meses, Cavalo e Jockey, contra todos os prognósticos, tentaram recuperar de lesões que os afastavam das corridas para sempre. Em 1940, ambos voltam a competir, e à terceira corrida, Seabiscuit volta a ser um vencedor.

Esta foi uma história de vencedores, que lutaram contra todas as adversidades, sobretudo, contra quem não acreditava neles, e que inspiraram um povo mergulhado numa crise profunda.

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Se antes o futebol era rei, agora, ainda será mais. No meio de uma crise profunda, o povo precisa de algo que o faça esquecer por momentos aquilo que se perdeu ou os sonhos que não se concretizam. O futebol nacional não será o meio mais fiável para cumprir essa função, já que as desilusões costumam ser uma constante, porém, continua a ser o desígnio que mais pessoas junta à sua volta. Que coisa melhor poderia acontecer neste momento do que uma vitória num campeonato Europeu ou Mundial? Seriam duas semanas em constante festejo, que em nada mudariam o contexto actual, mas pelo menos, os ânimos ficariam muito elevados.

O Benfica é o tal clube que supostamente terá 6 milhões de adeptos. Por isso, quando a equipa está bem e proporciona alegrias, tudo parece andar melhor, “Ah grande Benfica!”, dizem uns para os outros.

E no plantel desse clube, existe um jogador que dá pelo nome de Mantorras. Um jogador, que o Luís Filipe Vieira acreditava poder vir a ser uma grande estrela, tendo mesmo afirmado que só sairia do clube por muitos milhões de euros. Porém, o azar bateu à porta do Mantorras e ele acabou por ser atraiçoado pelos seus joelhos. No entanto, após 4 operações ao joelho direito, Mantorras não baixou os braços, nem se resignou a tentar viver de rendimentos ou a chular o clube que detinha o seu passe. Contra todas as previsões mais pessimistas, que o davam como perdido para o futebol, Mantorras passou a treinar mais, para que a deficiência no joelho fosse compensada com mais massa muscular. Sem nunca ter conseguido ser uma estrela de muitos milhões, Mantorras mostrou que a determinação e a força de vontade podem vencer todas as barreiras que parecem intransponíveis.

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Mantorras não é uma estrela. É sim, um jogador de enorme carisma. Mantorras levanta-se do banco e o pública vibra. Fazem tanto ruído como se a equipa tivesse marcado um golo decisivo. Mantorras sai para aquecimento e o jogo já parece estar ganho.

Mantorras não é uma estrela, mas entra em jogo com toda a determinação e força de vontade que aplica nos treinos. Não será assim de espantar que até marque golos e consiga resolver jogos que pareciam perdidos ou empatados, “Ah grande Mantorras!”, dizem uns para os outros. E quando isso acontece, nem que seja por breves momentos, todos se esquecem da grave crise que causou despedimentos ou cancelou sonhos.

No recente jogo com o Rio Ave, quando todos pensavam que seria mais uma banhada, talvez pelo facto do estádio da Luz mais parecer uma piscina olímpica, o Mantorras foi novamente o salvador da pátria. Ele entrou, marcou golo, e o público enlouqueceu. Enlouqueceu o público e enlouqueceram os órgãos de comunicação. No dia seguinte a esse grande evento, além dos jornais desportivos, os restantes jornais fizeram questão de mostrar o angolano que tinha voltado à ribalta. Qual crise qual carapuça, “Deixem jogar o Mantorras!”, disseram uns para os outros.

Acredito que fosse assim o dia seguinte a cada vitória do Seabiscuit.

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O único senão disto tudo é o facto de o Mantorras estar ligado a um desporto que, nos tempos que correm, é uma vergonha face à crise global que atravessamos. O mesmo desporto, que distrai o povo durante a crise, é repleto de casos e situações controversas, difíceis de aceitar por quem ficou a contar tostões.

Hoje, 6ª Feira, metade da capa do Público era ocupada com uma imagem do sueco Zlatan Ibrahimovic, que recebe 750 mil euros por mês de salário, ou nove milhões de euros por ano, sendo o jogador de futebol com o maior recibo de ordenado. O Público já havia dedicado metade da capa para salientar o golo do Mantorras, levando-me a pensar que talvez queira fazer concorrência à ‘Bola’, ou ao ‘Record’.

O problema é que nem todas as ‘estrelas’ têm uma atitude ‘à Mantorras’, e gastar muitos milhares de euros em ordenado, nem sempre garante os resultados esperados. Que o diga o Mourinho, pois ainda estará a pensar no que terá visto no Quaresma.

Só que este é o desporto onde nunca há crise ou falta de dinheiro, onde todos os excessos acabam por ser aceites pelos adeptos. Afinal, o importante é ter equipa para ganhar alguma coisa.

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Vamos apenas olhar para o triste exemplo que é dado pelo futebol nacional.

Como ainda não perceberam que as televisões estão a dar cabo das assistências, ou o facto de haver excesso de jogos, distribuídos de 6ª Feira à 2ª Feira seguinte, decidiram ainda criar uma tal Taça da Liga. Uma Taça que segundo alguns, apenas serve para levar ‘os grandes’ à final, e que tem assistência miseráveis. Uma taça em que o Porto nem tem problemas de por a equipa B a disputar a meia-final. Uma taça em que as regras, tal como a justiça, proporciona erros de interpretação, levando a que só na véspera, o Benfica tomasse do conhecimento do adversário para o jogo seguinte. O importante é haver futebol.

Veja-se o Estrela da Amadora, com jogadores há cinco meses a tentar receber ordenados. E deixam de jogar? Não. Aliás, não podem. Se fizerem greve, o clube é despromovido. Assim, mesmo sem dinheiro, entram em campo sempre dispostos a ganhar. Estes jogadores são uns heróis. E podia o Estrela ser agora despromovido? Então e o resto do campeonato? Como seriam realizados os jogos? Ia-se dar cabo do espectáculo que entretém o povo em tempo de crise? Nem pensar.

E o Vitória de Setúbal? Que ficou com os terrenos do estádio do Bonfim penhorados? Pode esse clube ficar sem estádio? Não acredito. Haverá sempre que esteja disposto a injectar dinheiro.

O nosso campeonato, a nível europeu, tem a pior média de golos marcados. E não se pense que é por termos as melhores defesas da Europa, longe disso.

A indústria do futebol é a que apresenta piores resultados, face aos avultados investimentos que são feitos. Mesmo assim, continua intocável, alheia a qualquer crise global. Se deixar de existir, como vai o povo distrair a cabeça?

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Para terminar

06.02.2009

Em Janeiro, nos EUA, perderam-se 600.000 empregos, com a taxa de desemprego a subir para os 7,6%, sendo o nível mais elevado nos últimos 16 anos.

E por falar em EUA, o Galaxy, um clube que pagou uns duzentos e tal milhões de dólares para ter o David Beckham nos seus relvados e a Victoria nas bancadas, equaciona agora o negócio que fez. Afinal, o David enamorou-se pelo Milão e está prestes a fazer uma birra para lá ficar a jogar, podendo mesmo haver alguém disposto a gastar mais uns milhões.

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Como diria a Revista “Isto é que vai uma crise”.

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5 comentários leave one →
  1. Aldair Danilson Pedro permalink
    Junho 26, 2009 12:06 pm

    Olha gosto muito do Pedro manuel Mantorras tambem por ser pedro e por ser um bom jogador de futebol e tambem um dos melhores jogadores de futebol do pais ou de angola claro.Depois do seu melhores momentos da seleccao sub-20 e nao so o craque de futebol angolano nao baixou os bracos e arrecadou os seus fas e manten se ate hoje.

    • Junho 26, 2009 1:43 pm

      Aldair,
      mais notável é a força de vontade que ele tem. Mesmo com os problemas físicos que padece, o tal joelho, ele de facto nunca baixou os braços e insistiu em exercitar o corpo para ganhar músculo que atenuasse esse problema. É um grande exemplo de coragem, dedicação e amor pela camisola. Houvessem mais assim

  2. Janeiro 28, 2010 8:49 am

    mantorrais éu só teu fãm gosto de tiver a jogar

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