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O Francis Blake e o Philip Mortimer

Outubro 8, 2008

Sim, já adquiri o primeiro livro da colecção ‘Blake & Mortimer’, lançado pelo Público na sua edição de 8 de Outubro, por mais 7.90€. A partir de agora, só resta desembolsar essa quantia todas as 4ª Feiras, até ter na mão os 18 álbuns que constituem esta colecção.

Estes livros trazem-me fantásticas recordações da minha infância. Juntamente com todos os livros do Tintim, preenchiam o meu imaginário de viagens e aventuras.

Numa época em que só havia dois canais de televisão e os filmes eram do tempo da Maria Cachucha, não existiam computadores ou Internet, não existiam consolas de jogos, num tempo onde a imaginação ganhava asas com o que se lia nos livros de aventuras, então, ler ‘Blake & Mortimer’ seria o equivalente a juntar todos os actuais meios audiovisuais de divertimento num só.

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De toda a colecção, pela minha preferência, destaco os seguintes livros.

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“O Segredo do Espadão – Tomo 1”

Em 1947, falava-se de paz em todo o mundo. Excepto no misterioso e pouco conhecido Império Amarelo de Basam Damdu (China?), que mantém o Tibete sob uma ditadura férrea. Em poucas horas, uma ofensiva fulgurante das suas tropas neutraliza a resistência nas principais capitais mundiais, que ficam reduzidas a escombros. Na base militar britânica de Scaw-Fell, o professor Philip Mortimer trabalha dia e noite no desenvolvimento de uma arma secreta com capacidade para neutralizar os exércitos do ditador asiático. Basam Damdu, desencadeia um ataque aéreo contra a base. Mas é demasiado tarde: Mortimer e o capitão Francis Blake conseguem fugir a bordo do Golden Rocket. O seu destino é uma instalação secreta onde podem continuar a desenvolver o misterioso Espadão.

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“O Segredo do Espadão – Tomo 3”

Depois de uma fuga espectacular, Blake e Mortimer chegam à base secreta da resistência nas falésias do Makran, algures no Médio Oriente. A coberto das suas temíveis defesas, e enquanto Blake se encarrega da segurança, o professor Mortimer termina o primeiro protótipo do Espadão: o SX1. Blake e Mortimer terão tempo para terminar o Espadão, última esperança do mundo livre, antes que Basam Damdu envie as suas tropas para um ataque final e devastador às falésias de Makran?

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“O Enigma da Atlântida”

De férias nos Açores, o professor Mortimer faz uma descoberta espantosa. Ao explorar uma gruta encontra um metal desconhecido com surpreendentes propriedades radioactivas e luminescentes. Lembram-se imediatamente do orialco, o misterioso metal que, na narrativa de Platão, os atlantes consideravam tão precioso como o ouro (…) Inicia-se uma descida às entranhas da Terra, onde vão viver uma extraordinária aventura. Encontram os habitantes do continente perdido da Atlântida e arriscam a vida para salvaguardar a paz no império atlante antes de regressarem ao nosso mundo.

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“A Armadilha Diabólica”

O cientista Miloch, inventor de uma máquina que controlava as condições atmosféricas (“SOS Meteoros”), nomeia Mortimer como seu herdeiro universal. Esquecendo toda a prudência e ignorando os avisos do seu amigo Blake, o heróis toma contacto com o Cronóscafo, uma máquina de viajar no tempo concebida por Miloch. Como o herói irá aprender à sua própria custa, o engenho encerra uma armadilha para o fazer desaparecer. Para conseguir voltar ao seu tempo, o herói confronta-se com animais pré-históricos, enfrenta uma sublevação camponesa na Idade Média e debate-se com um tirano cruel que escravizou a humanidade num tempo futuro pós-apocalíptico.

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A primeira vez que tomei contacto com esta banda desenhada, foi em casa de um vizinho meu para onde eu costumava ir brincar. Transcrevo «As primeiras brincadeiras foram feitas na casa de um vizinho do prédio do lado. Ele tinha sempre grandes novidades em brinquedos e por isso, era bastante apreciado. Tinha montes de Legos que davam para construir tudo e mais alguma coisa, tinha ActionMen, tinha pistas da Matchbox, tinha pistas de corridas de automóveis e até foi o primeiro a ter um Spectrum, resumindo, era bastante apreciado» de “Eu brincava assim…”.

O pai desse meu amigo era um grande apreciador de banda desenhada, e ao longo dos anos, tinha coleccionado as edições da revista Tintin. Cada publicação continha vários títulos da BD, em particular, o ‘Blake & Mortimer’. Se não estou em erro, a colecção era constituída por uns dez calhamaços, que agrupavam várias revistas de publicação mensal, creio. De início, talvez tenham achado que eu ainda não tinha idade para ter acesso a tão grande tesouro, por isso, apenas me era permitido dar uma olhadela ao seu conteúdo, na presença do dono da casa. Só muito mais tarde é que obtive a tão desejada autorização para levar um calhamaço de cada vez para minha casa. Foi a loucura. Eu não me cansava de ler e reler aquelas aventuras.

A luta de uns resistentes contra um ditador impiedoso? Qual a diferença entre “O Segredo do Espadão” e a primeira trilogia da Guerra das Estrelas? Os Açores a esconderem a civilização da Atlântida? Um herói a viajar no tempo? Quantos filmes foram feitos com base nesta história?

Edgard Félix Pierre Jacobs, mais conhecido por Edgar P. Jacobs, além de ser um brilhante desenhador e argumentista, foi também um visionário para a sua época.

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O primeiro número da revista Tintin foi lançado em 26 de Setembro de 1946. Esse número incluía “O Segredo do Espadão”, o qual apresentava os personagens do Capitão Francis Blake, dos Serviços Secretos Ingleses, o seu amigo, o Professor Philip Mortimer, um Físico brilhante, e o arqui-inimigo deles, o Coronel Olrik. A trilogia do ‘Espadão’ terminou em 1949, mas Olric, Blake e Mortimer continuaram a sua luta através das restantes histórias da colecção.

Após a morte de Jacobs em 1987, Bob de Moor completou a sua última história que estava inacabada. No meio da década de 90 a série continuou com dois grupos de escritores e artistas Van Hamme/Benoit e Sente/Juillard.

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Apesar de a série ser ‘Blake & Mortimer’, é o professor Mortimer que acaba por ser o protagonista principal. É ele que, por causa do seu carácter impulsivo, se envolve nas aventuras. O Capitão Blake é o homem correcto, o oficial do exército, de ar sério, que acaba sempre por ir em socorro de Mortimer. Já o Coronel Olrik combina características dos outros dois heróis.

Blake e Mortimer são mostrados por diversas vezes a viver na mesma casa, partilhando um apartamento da mesma forma como faziam Sherlock Holmes e Doctor Watson, ou outros heróis da BD, como Tintin e o Capitão Haddock, ou Spirou e Fantasio.

Jacobs sempre desenhou as histórias com um ar contemporâneo, por isso, as primeiras tinham um ar dos anos 50, enquanto as últimas já apresentavam um design típico dos anos 70. No período pós-Jacobs, as histórias voltam a ter um design localizado nos anos 50.

Algumas aventuras terminam com os personagens a reflectirem no que aprenderam nas suas experiências. Na aventura em que Mortimer viaja no tempo, este conclui que em vez de sonhar com os bons velhos tempos, ou olhar para um futuro promissor, o melhor era mesmo dar valor ao presente.

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Estes súbditos de Sua Majestade nunca tiveram direito à Sétima Arte. Espanta-me que com tanta adaptação que é feita de livros de BD, nunca ninguém se tenha lembrado de transportar estas aventuras para o grande ecrã. O enredo destas histórias de certeza que garantia uma produção que seria um enorme êxito de bilheteira.

Steven Spielberg está a filmar o Tintin, com data de lançamento para 2009. Agora que Spielberg abandonou a Paramount e ao anunciou o seu objectivo de fundar um novo estúdio em sociedade com o grupo indiano de telecomunicações Reliance ADA, espero que mantenha este tipo de ideias e se lembre de colocar o ‘Blake & Mortimer’ no cinema (só espero é que não ganhe tiques de Bollywood).

E actualmente, quanto olho para os desenhos do ‘Blake & Mortimer’, tenho a certeza de duas coisas, o papel do Professor Philip Mortimer seria entregue ao Russell Crowe, enquanto o papel do Capitão Francis Blake iria para o Leonardo DiCaprio (Ok, tenho algumas dúvidas quanto a esta escolha). Será esta foto um prenúncio dessa dupla?

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Passados mais de vinte anos sobre a última vez que li uma história das aventuras de ‘Blake & Mortimer’, dou agora início à minha colecção desta BD de excelência. Já não me lembro de muitas das histórias. Por isso, uma vez mais, tenho a certeza que vou ler e reler estas aventuras com o mesmo prazer com que as li em calhamaços emprestados pelo vizinho.

Já tinha estado tentado a comprar estes livros na Bertrand, porém, achei que a edição não apresentava a devida qualidade. Agora, agradeço ao Público por ter lançado uma edição de luxo, com capa dura, lombada forrada a tecido e gravada a dourado.

Les Aventures de Blake et Mortimer

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