Poisson du Saint-Populaire au Pain Alentejaine
Em vésperas do Santo Antoninho e já sem uma provável quebra no fornecimento da ‘gordinha’, lembrei-me de falar de um prato fantástico da nossa gastronomia, o qual me deixa sempre a salivar só de pensar nele. Refiro-me ao inigualável Filha da Sardenha Repousando em Cama Fermentada.
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Ingredientes:
– Sardinhas q.b.
– Azeite
– Pão Alentejano q.b.
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Modo de Preparação
– O Pão tem obrigatoriamente de ser alentejano e não pode ser do próprio dia. O pão ideal para este prato deverá ter entre dois dias a três dias. Desta forma, garante-se a utilização de um pão bastante consistente e pouco mole, condição fundamental para aguentar toda a nha-nha que irá absorver, sem se desfazer.
Corte o pão no sentido transversal, em fatias que tenham exactamente 1cm de espessura – se forem mais finas, o pão ensopará em excesso, e se forem mais grossas, vão tirar espaço para mais sardinhas, vinho e salada de pimentos (*).
Agarre numa fatia de pão e disponha no prato. Não coloque mais nada no prato. Se desejar comer salada utilize outro prato para o efeito. Isto evita que o líquido do tempero da salada possa danificar a consistência do pão.
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– Espere que as sardinhas saiam do fogareiro e sejam colocadas na mesa. Depois, procure aquelas que tenham um ar mais esturricado. Na imagem seguinte, eu escolheria a 4ª e a 6ª a contar da esquerda.
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– Com a ponta dos dedos, retire uma sardinha e disponha sobre a fatia de pão. A sardinha deverá ser colocada na metade superior da fatia – Eu gosto de colocar a sardinha com o focinho voltado para o meu lado esquerdo.
– Procure o azeite e deite um fio muito fino no sentido longitudinal do bicho, desde o focinho até ao rabo.
– Com os dedos, rode a sardinha em torno do seu eixo longitudinal, para que ela ocupe a metade inferior da fatia de pão.
– Deite novo fio muito fino de azeite ao longo da mesma.
– Rode de novo a sardinha para a metade superior do pão. Neste momento, toda a área do pão já deverá estar impregnada de azeite, sal grosso e aroma de sardinha.
– Com os dedos, retire a pele da sardinha desde a zona das guelras até ao rabo. Numa sardinha fresca e bem assada, esta operação será feita numa só passagem.
– Com os dedos retire os nacos de carne e leve-os à boca sem vergonhas. Não tenha pressa e saboreie cada naco de forma lenta. Ver desenho técnico.
– Com os dedos vire a sardinha para a metade inferior e repita os passos anteriores.
– Retire os restos do bicho para um receptáculo de restos e procure na travessa outra sardinha que se enquadre nos padrões já indicados.
– Se o processo estiver a decorrer de forma correcta, poderá constatar que a fatia de pão começa a apresentar um tom acastanhado.
– A utilização de cada fatia de pão não deverá exceder as 4 sardinhas (**). A cada 4, 8, 12, 16(?) sardinhas, retire a fatia de pão e substitua por uma nova. Em relação à fatia já usada, execute uma operação bastante perigosa, colocando-a na grelha onde foram assadas as sardinhas. Espere que a mesma apresente um ar torrado e volte a colocá-la no prato. Por fim, saboreie esta torrada fantástica.
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Notas da Redacção
(*) Para mim, só o cheiro do pimento já é indigesto. Ingerir um pedaço do tamanho de uma unha, é o suficiente para não voltar a pensar em comer durante um dia inteiro.
(**) É um prato que eu adoro, mas cuja quantidade não pode exceder as 4 sardinhas. Quando essa quantidade é ultrapassada, a sensação que fica é de ter ingerido uma caixa de sardinhas cruas.
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Desenho Técnico
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A imagem anterior indica as três zonas apetecíveis de nacos de sardinha, que deverão ser arrancados com a ponta dos dedos.
(?) Cabeça, guelras e barriga – vejo esta zona tal como os muçulmanos vêem a carne de porco
(1) É para mim a zona mais saborosa
(2) Zona que dá algum trabalho pois é notória a presença de algumas espinhas de calibre considerável
(3) Consoante o tamanho da sardinha, este naco poderá ficar muito esturricado e seco
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não me parece nada mal…mas arranjar sardinha aqui…mais depressa um crocodilozinho…e teria de ser em pão Indonésio??!!
Ah mê menino…crocodilozinho no pão é capaz de não ser mau, só que, se o pão não for igual ao nosso alentejano, é mesmo para esquecer. Em Odeceixe, tive oportunidade de comprar um belo exemplar de um pão alentejano, que era de chorar por mais, mesmo ao fim de 5 dias.
Ehehe, um verdadeiro workshop da nossa gastronomia!
Um Must, adorei, até já estava a cheirar a sardinhas e tudo…